Enquanto pensava sobre o evento do IEPP Conversas Afinadas – Viajando por Diferentes Mundos: o Papel da Literatura em Tempos de Isolamento (que ocorreu no último sábado), viajei por livros antigos, novos, clássicos, modernos, juvenis…
Talvez, o poder dos livros esteja ai. Em não estar em um lugar. Em não se restringir a um momento. Pode-se dizer que os livros são atemporais? Que a cada nova leitura dá-se um novo encontro? Um novo sentido? O que seria isso diferente do processo de uma psicoterapia psicanalítica? A vida é a arte do encontro, apesar de tantos desencontros, como dizia Vinicius.
Mas será que, diante de tantas Tela-telas (aproveitando a distopia mais realística de Orwell), as páginas dos livros físicos perdem sua importância? Será que, com a facilidade de compras online, onde a capa nem chama mais atenção, se pode fazer downloads de várias obras por um preço baixíssimo, somando ao aumento do imposto dos livros físicos… Será o fim dos livros?
Fabrício Carpinejar ainda acredita no poder dos livros. Para o escritor, o livro sempre vai ser uma saudade. Um cômodo, como uma bandeja de café.
Ler requer silêncio, ler requer imaginação e uma capacidade de estar só. Diferente de séries e filmes, onde as imagens já estão postas e impostas, a leitura possibilita uma criação. A leitura se da entre tu e aquele livro. Tuas histórias se encontram com as histórias daquela obra, daquele autor. Juntos, a dupla cria uma nova história e um novo encontro.
Os livros salvam, frase já conhecida e nunca clichê. Mia couto, em uma entrevista para o Café Filosófico, conta sobre um episódio de sua vida. Quando jovem, o autor queria entrar na militância pela libertação de Moçambique. Ao chegar no local onde os candidatos estavam reunidos, os militantes mais velhos pediam que cada candidato narrasse algum sofrimento passado em sua vida. Esse relato seria a porta de entrada para aquele grupo. Diante de tanta tragédia escutada , Mia considerava-se privilegiado. Nunca havia passado por tanta coisa. Com sua humildade, o escritor admitiu aos líderes: “Eu sofri porque vi os outros sofrerem.” Um dos líderes reconheceu o jovem poeta e disse:” Você não é o jovem que faz poemas? Então pode entrar para nossa militância, precisamos de poesia.”
Em tempos difíceis, precisamos de poesias, precisamos de histórias, narrativas, precisamos de palavras para nos ajudar a dar sentido para o que estamos vivendo.
Freud já falava na cura pela fala.