Confesso que sou novata com plantas, mas tenho me dedicado cada vez mais a elas. A partir do ano passado, tendo a pandemia do COVID-19 nos convidado a olhar pra dentro de casa, tenho me disponibilizado mais a entendê-las e a acompanhá-las. Sim, é preciso muita sensibilidade com elas!
Em especial uma das plantas me intrigou desde o início da nossa convivência. Só o que eu sabia sobre ela era de que precisava de rega frequente e de um considerável tempo de sol direto. (Quem nesse período de pandemia não precisou disso também né?)
Na primeira manhã com a planta, ainda não sabendo qual seu nome e o modo exato de cultivo, me surpreendi quando vi ainda mais flores em seus ramos. Era cedo quando me perdi admirando tantas cores… o amarelo, o vermelho e o laranja se misturavam ao verde vivo das suas folhas. Vagarosamente abri a janela que estava ao seu lado, deixando o sol entrar e abraçá-la. Suas folhas se mostravam sensíveis ao toque e algumas delas caíram facilmente, ela parecia me avisar de suas fragilidades. A sua terra estava seca, cuidadosamente a reguei, parecia me falar sobre suas necessidades.
Tenho me atentado às peculiaridades de cada uma das plantas, umas são mais exigentes, outras mais independentes. Ao mesmo tempo que cuidava delas, sentia cuidar da casa e de mim também, um tempo que era só nosso.
Eis que ao final do dia tive uma surpresa: as flores murcharam! Confesso que me senti aflita… muito sol? muita água? Não conhecia sua espécie, mas pela folha me indicava ser algum tipo de suculenta. Puxa, nunca fui muito boa com suculentas!
Me despedi e aguardei.
Paciência, elas pareciam me pedir. A pandemia também me pedia isso (e ainda pede!).
Esperei.
E pra minha surpresa na manhã seguinte lá estavam elas abertas e coloridas de novo. Não estavam iguais, umas permaneceram fechadas e outras brotaram com vitalidade. Amarelas, vermelhas e laranjas!
Lendo, descobri que a planta era do tipo Portulaca Grandiflora, mais conhecida como “Onze Horas”. Soube que a capacidade de se abrir no período de maior incidência do sol era uma característica que já tinha tornado esta flor popular. Este movimento acontece quando as estruturas fotossensíveis que existem nas folhas percebem que o sol está em seu auge, são estas mesmas estruturas que fecham a flor assim que a luminosidade vai diminuindo.
Assim como a Onze Horas, que reage a períodos de sombra e de luz, permanecemos convivendo com as nuances e os contrastes da pandemia. O momento (de privações e/ou excessos) pede a nossa recolhida e nos demanda estarmos atentos aos nossos sinais e necessidades de cuidado. Paciência… é preciso dela para tolerar o que estamos vivendo, para podermos elaborar o que sentimos e acompanhar os próximos movimentos do ano que se inicia.
Carolina Azevedo – Psicóloga e sócia graduada do IEPP.