por Eduarda Duarte de Barcellos (Psicóloga, Sócia Graduada – IEPP, Mestranda em Psicologia Clínica – UNISINOS, Membro da Sociedade Brasileira de Psicologia)
Com o início da Copa do Mundo fica ainda mais claro que o futebol tem algo que une as pessoas. Seja ter um time para torcer, seja assistir um jogo qualquer e escolher uma nação (mesmo que não a sua) para defender. Esse sentimento fica vívido nos estádios: os cantos da torcida, abraçar um desconhecido para comemorar um gol, conversar com alguém como se fosse um amigo só porque torcem pelo mesmo time. E você, já sentiu isso?
Freud, em seu texto “O Mal-Estar na Civilização”, falou sobre um sentimento de ser uno com o mundo externo como um todo, de sentir-se fazendo parte de algo maior do que si mesmo: o sentimento oceânico. Segundo ele, esse sentimento de um amor comum com outras pessoas rompe, em nosso psiquismo, a barreira entre o ego (=si mesmo) e o exterior. Logo, o sentimento ‘oceânico’ possui a função de restaurar o estado onde não existia nenhuma diferenciação entre a criança e o mundo, o estado de narcisismo ilimitado, onde parecia que tudo era um só, indissolúveis. Esse sentimento nos traz uma segurança, remetendo a um momento onde nada poderia fazer-nos mal. Como diz aquela sábia frase: “juntos somos mais fortes”. Assim, a união entre os torcedores faz com que se esqueçam diferenças, porque o adversário é o outro time, a outra torcida, o mundo externo, e não a outra pessoa que está ao nosso lado.
Outra forma de pensar o sentimento relacionado à Copa do Mundo, assim como ao Carnaval no Brasil, é que esses momentos permitem uma necessidade de extravasar o sofrimento, de (um pouco, pelo menos) negar deveres e viver um prazer que a sociedade repreende. Uma infração periódica à regra, permitida pela própria civilização, que impõe a frustração constante dos desejos dos sujeitos. Ao mesmo tempo que esses momentos produzem uma “cegueira temporária” e são criticados por isso, são necessários, visto que a busca por momentos de prazer é inerente ao ser humano. Estamos sujeitos a tantos sofrimentos, frustrações e limites, que uma negação passageira da realidade pode trazer um alívio, uma esperança de que a vida não precisa ser tão sofrida. É como um período de férias, no qual pode-se dormir até tarde, sair da dieta, rir até a barriga doer sem se preocupar com o trabalho do dia seguinte, com a balança, com os afazeres diários. Mas, assim como as férias, a Copa também tem data para acabar, para a realidade se impor e para voltarmos ao cotidiano, inspirados, relaxados e, se o time do Brasil nos ajudar, felizes!
Vai, Brasil!