Por Anie Sturmer (Psicóloga, diretora adjunta I, docente e supervisora – IEPP; Diretora, docente e supervisora – IPSI)
Então é Natal…parece que ouço a música que cansou nossos ouvidos, entoada pela cantora Simone, nas lojas por quais eu passava nos anos 90. Da minha infância recordo as tradicionais: “Jingle Bells”, “Noite Feliz”, o “Bom velhinho”.
Na minha cidade faziam concorrência pela melhor vitrine. Semanas antes do Natal meus pais nos levavam para olhar as vitrines enfeitadas no centro da cidade, escolhermos a que mais nos agradava e torcer para que vencesse. Eram vitrines que iam desde o Papai Noel levantando a mão solenemente com uma varinha fazendo menção de nos bater até pequenas cidades com sinos, flocos de “neve” e trenós passeando pela estrada. Além disso havia um “desfile” de brinquedos que sempre nos encantava.
Na noite do dia 24, era tradição irmos à missa e quando voltávamos o Papai Noel já teria passado e deixado os presentes. Certa vez passou lá na frente de casa um Papai Noel magricela com uma máscara assustadora. De dentro da máscara eu via dois olhinhos me encarando! Corri para dentro de casa, morrendo de medo! Por isso que as crianças choravam quando viam o Papai Noel! Pudera! Além de assustar com a varinha e o castigo para quem não se comportasse, tinha aquela máscara que distanciava da imagem de “bom velhinho”.
Abolimos então a visita do Papai Noel, só queríamos chegar e encontrar os presentes embaixo do pinheiro. Anos mais tarde fiquei sabendo que aquele Papai Noel na verdade era o Seu Evi, irmão da Sela que lavava roupa para nós e que era contratado por alguns vizinhos para entregar os presentes para a criançada. No dia seguinte era todo mundo desfilando na rua com seus brinquedos novos. Nunca esqueço quando ganhei a minha primeira bicicleta, uma Caloi azul! No dia 25 lá estava eu na calçada treinando e deixando a marca dos meus joelhos nos muros da vizinhança!
Ficávamos brincando na rua até escurecer…
Solicitaram que escrevesse um texto sobre o Natal… Iniciei com a letra da música da Simone seguindo em associação livre…minha memória foi sendo resgatada e trazendo de presente estas lembranças…relíquias…Lembro da minha mãe no quarto colocando vestido novo para a noite de Natal, meu pai caminhando com passos firmes no corredor e dando uma parada na porta da cozinha dizendo alguma gracinha. Ou ainda, sentado na área e, quando aparecíamos já prontas para sair, ele assobiava fazendo com que nos sentíssemos as mais belas da face da terra.
Natal é época de reunião familiar, e muitas vezes este período do ano se torna triste…quando as pessoas se reúnem, mais evidenciada fica a falta daqueles que não se encontram entre nós. Natal também é a festa da saudade…imprimindo um significado brasileiro para a data. Confraternizar com quem está ao nosso lado e sentir a nostalgia nas lembranças dos que já se foram, ou daqueles que estão longe.
Então é Natal…festa da celebração da vida…de encontros.
Muita coisa mudou desde a minha infância. Não tem mais vitrine natalina, não tem mais brincadeira na rua, o Papai Noel não tem mais máscara. Meus pais já não se encontram mais aqui… A realidade é outra…pensamos então em quantas pessoas esquecidas no mundo todo…a música entoava: “como é que Papai Noel, não esquece de ninguém, seja rico ou seja pobre o velhinho sempre vem”. Diferente da maioria das crianças do mundo, temos privilégios e sabemos que nossos filhos e nossos netos não serão esquecidos e, mesmo que sofram perdas inerentes da vida, terão bonitas lembranças para recordar. O simbolismo da festa continua o mesmo. Talvez tenhamos que olhar mais para os lados e, pensando na VIDA, lutarmos por uma sociedade mais justa e digna para todos, independentemente da posição social, raça, credo ou gênero.
Assim estaremos realmente celebrando a vida…
Feliz Natal!