Mãe é um estado civil. É ter o melhor e mais vulnerável pedaço de si fora do corpo. É estar em estado de alerta constante, como se este fosse sempre o seu estado “normal”. E sem perceber, nos damos conta que quando nasce um bebê, nasce uma leoa. Quando escuta primeiro choro, sente o cheiro, dá a primeira mamada e o primeiro colo, uma felina emerge de dentro dessa mulher que agora é um ser/animal completo. A (s) garra(s) afiada (s) para proteger e prover o seu rebento são um recurso indispensável, além de todos os sentidos que se tornam aguçados como nunca antes. Estas são as ferramentas necessárias que tornam possível essa jornada fantástica, interminável, e quase sempre inominável com palavras.
As normas e convenções em forma de orientações, dicas e sugestões, tão buscadas durante a gestação, perdem força e dão lugar ao que realmente importa nessa relação: o primitivo. Este, toma conta dessa leoa, a qual possui um único objetivo ao lamber a sua cria: dar carinho, proteção, cuidado e amor em forma de alimento, para que este ser, completamente dependente, possa vir “a ser”.
E o resultado desta constante transformação, é que toda essa energia, em forma de amor incondicional se renova e se multiplica a cada lambida, a cada nova conquista, a cada frustração superada e a cada novo olhar de cumplicidade da dupla. Desta forma, cria e leoa vão amadurecendo se fortalecendo para cada desafio que vem pela frente, pois nenhuma batalha que a mãe leoa precisa vencer junto ao seu filhote é fácil e indolor. Como combustível para atravessar essa jornada, contamos com o brilho dos olhinhos da nossa cria, com o som delicioso do seu balbuciar, com o suspiro de satisfação ao final da mamada e também com os momentos difíceis de dor, medo, insegurança e dúvidas, que fazem parte dessa nova vida, possibilitando que algo de novo se construa nessa relação constantemente.
Enfim, ser mãe é abrir mão do conhecido, do civilizado, do que já estava alinhado, para abrigar dentro de si, com todas as suas vísceras, a selvageria que a maternidade nos impõe. É ser a bela e a fera ao dar a vida e assegurar essa vida porquanto não lhe caiba autonomia.
Feliz dia das leoas!
*Bruna Machado Meneghetti
Psicóloga Sócia Efetiva do IEPP
Mãe da Betina de 2 meses