Por Nicolle Codorniz, Psicóloga e Sócia Aspirante do IEPP
Chegamos em Janeiro. Mês que sempre oportuniza a entrada de uma nova etapa em nossas vidas. Um momento de transição. E além disso também estamos entrando na campanha do Janeiro Branco: mês de conscientização e prevenção da saúde mental. Somos levados a desconstruir estigmas relacionados à busca de apoio emocional, e desfrutamos dessa época para provocar essa discussão fundamental em tempos de crises entre o eu e o outro.
Após as festas de final de ano, inicia-se um novo ciclo marcado por reflexões, anseios e muitos planos. Um período que rememora a vontade interior de seguir em frente apesar das adversidades e, principalmente, mudar de vez! Porém sabemos que muitas vezes não é um processo simples essa mudança. E por isso estamos no primeiro mês do ano falando sobre saúde mental, trazendo a conscientização sobre o ato de cuidar de si mesmo e se sentir mais feliz. Mas por que a positividade que circunda esse período se distrai e (re)oferece lugar sem pestanejar a diversos adoecimentos psíquicos?
Todas as pessoas passam por períodos difíceis ao longo da vida. Pessoas vivenciam perdas significativas, outras sofrem crises, excessos, e ainda outras veem a chama da luz quase se apagar. Instabilidade política, desemprego, problemas familiares, intolerância, lutos, frustrações, isolamento. Tudo isso observamos a cada esquina que passamos nos últimos tempos. São tantos motivos para adoecer nesse quase ¼ de século e para acreditar que o sofrimento pode ser um caminho sem volta… Mas é importante dizer que ele não é e nunca será se a saúde mental puder ser investida de forma cuidadosa.
A campanha do Janeiro Branco vem à tona em um momento do mundo em que o imediatismo e a necessidade de realizar uma boa performance são cobranças cotidianas. Momento de liquidez, de relações fragilizadas, em que se nega a interação de um olhar. Momento também em que a liberdade de expressão está aos poucos ganhando espaço e oportunizando melhores lugares para as diferenças, sejam elas sexuais, de gênero, de raça ou de crenças. Mas momento que também se utiliza da violência para calar essas diferenças diante da intolerância interna. Então como dar conta desse velho mundo novo que frequentemente assusta e reprime o desejo de ser quem simplesmente se é? Ou que reprime o desejo do outro em função de uma cultura que não prioriza o autoconhecimento e a empatia?
Por acaso do tempo, a resposta é que temos uma nova tela em branco em mãos, cada uma com uma textura e uma forma distinta. E por isso temos uma responsabilidade com nós mesmos e com as pessoas ao redor. Nessa tela, além de se reescrever e ressignificar uma história, é capaz também de transformar não só uma vida inteira, mas todas as pessoas tocadas por essa vida. Cada sujeito possui o direito humano de ser apoiado e ajudado por profissionais da saúde mental. Ninguém precisa carregar dores e desamparos sozinho. Ao contrário do que muita gente acredita, não é “coisa para louco” pedir ajuda e expor suas fragilidades. É simplesmente um ato de coragem e honestidade consigo mesmo.
Cuide-se. Uma feliz nova tela nesse recomeço de ano!