Por Alexandre André Zortéa, Psicólogo e sócio aspirante do IEPP
Admito: habitam em mim núcleos machistas. Não me orgulho nada disso. Mas acrescento rapidamente, antes que vozes se levantem, que estou em árduo e contínuo processo de reabilitação. Não pensem que é uma caminhada simples e tampouco finita. Diria que nem mesmo é feita de maneira natural. Discursos que alimentam as antigas crenças estão por aí, em todos os lugares, ainda me seduzindo. Muitos de nós, da ala masculina, somos forjados desde o berço para sermos criaturas à prova de qualquer impacto: fortes, rígidas, valentes, precisas, resistentes… Sistemas complexos reduzidos a mecanismos que nada sentem. Pequenos vazamentos em nossas engrenagens são prontamente corrigidos: “Engole isso rapaz, homem não chora”. Crescemos em tamanho, mas o que fica é a impressão de que a velha fantasia de super-herói continua ali, aderida, confundindo-se com a nossa própria pele.
O que talvez esqueceram de nos contar é que por detrás dos muros do castelo se escondem fragilidades, conflitos, questionamentos acerca do mundo e de nós mesmos. Sem portas ou janelas que nos liguem ao espaço externo, a imponente construção que prometia proteger, pode nos alienar, embrutecer e tomar contornos de prisão. As perguntas ecoam, obtendo somente respostas prontas do nosso manual de preconceitos. Suficiente para alguns, essa herança da masculinidade clássica pode se tornar um fardo pesado demais para outros.
Felizmente sempre é tempo de refletirmos sobre estas questões. A campanha Novembro Azul nos convoca de um modo todo especial para a temática, justamente por dedicar este mês à conscientização sobre as doenças masculinas, com ênfase na prevenção e no diagnóstico precoce do câncer de próstata. O diálogo aberto sobre os tabus que cercam a mística do homem tradicional oferece amplo campo para trocas e desconstruções. Com as amarras mais frouxas, faz sentido que o sujeito amplie e considere outras possibilidades de bem viver.