Quem de nós consegue imaginar o horror que essa menina, criança yanomani de 12 anos, sentiu antes de morrer? Yanomani, indígena. Consegues?! Frente a homens adultos sádicos, decididos a maltratar uma criança assustada até o limite da morte. Apoiados e financiados por um capital perverso e sem escrúpulos, ignorante. Quem colocou esses homens lá para fazer horror? Todo esse panorama nos faz tremer ante um presente sonâmbulo, conforme chama Linera, ao nosso tempo.
Ela parece muito distante de nós. Dos povos originários. Mas ali está ela sem vida.
Como consentir? Virar o rosto? Desviar o olhar? Invisibilizar?
Faz sentido nos perguntarmos sobre isso ou estamos cotidianamente, repetindo o mesmo, nesse estado sonâmbulo de ato sem palavra, como se essa pergunta fosse um ato de descarte do impensável da angústia.
Somos essa criança! Somos todas crianças do país e deveríamos ter o cuidado de preserva-las como a nós mesmos. Elas são o nosso futuro. Mas que futuro? Futuro, furo, fu… O vazio do presente estilhaça o futuro num vai e vem insubordinado e adverso à amorosidade e responsabilidade. Quem somos então para além do capital que subjuga e humilha nossa humanidade de pessoas que sonham? O que sonhar nesse lugar de acuados pelo perverso sustentado como se fosse lugar de direito? Estamos frente ao pior!
A menina morreu acuada pelo ódio possuído e a floresta, nossa Amazônia, sofre agonizante a cada dia mais.
Quando iremos descruzar os braços?
Desde o lugar de psicanalista torna-se insuportável assistir a todo esse desalinhavo da vida como natural! Não é natural! Pode ter sido provocado, mas deixa um rastro de indignação! Os braços não podem mais permanecer cruzados e que nosso grito ecoe estridentemente no mundo! Não é esse Brasil que queremos.
Maria Elisabeth Cimenti (Psicóloga, Psicanalista, Docente e Supervisora do IEPP, Membro didata da SPPA e Mestre em Psicologia Clínica pela PUC-RS).