As portas se fecham, é preciso ficar confinado na torre até que o perigo do lado de fora acabe. Tal qual na história da Rapunzel, somos convocados pela realidade a permanecer em confinamento em nossos lares, devido à presença de um vírus, um “ser” ameaçador que ronda as cidades, tal como um feitiço amaldiçoado. Nos sentimos então como a Rapunzel, presos em uma torre por uma velha senhora, sem poder ter relações com o mundo externo e com os outros indivíduos, sem o calor da presença e do sol, sem o encanto do olhar, sem os sons da natureza e da vida lá fora. Porém, em nosso caso, esse isolamento é feito para nos proteger, para cuidarmos uns dos outros, mas como é difícil entender que estar longe pode ser cuidar né? Somos acostumados a querer manter o mais perto possível nossos objetos amados, mas, tal como a velha senhora, não podemos, por querer tanta proximidade, acabar “prendendo” e prejudicando a quem amamos. É como a situação que vivemos agora, demonstrar amor é em muitos casos deixar quem amamos longe, protegido e saudável, e essas separações são necessárias em muitos momentos de nossa vida. Seja quando os pais precisam abrir mão da presença e do controle sobre os filhos para eles poderem evoluir, seguir sua vida, seja quando os filhos precisam se despedir de seus pais para crescer. Distância física não quer dizer distância emocional, assim como proximidade física não significa necessariamente proximidade emocional. Mesmo que a velha senhora mantivesse Rapunzel presa na torre, para ser “só sua”, elas não tinham uma relação de amor e cuidado genuíno. Faltava respeitar sua individualidade e permitir que tivesse outras relações. Assim, quando chega o príncipe encantado, mesmo que de fora da torre, toca seu coração e lhe mostra que pode ser livre, ter outras relações e ser dona de sua subjetividade. Então, ao encontrar novamente o príncipe no deserto, Rapunzel vai para o mundo. Para voltarmos ao mundo, teremos que ser pacientes e respeitar o tempo necessário, cuidando de nós mesmos e dos outros, e assim voltaremos muito melhores, aprendendo a ver os outros e suas necessidades de forma muito mais empática e verdadeira. Depois desse isolamento, que pode ser visto como um momento de transformação, jogaremos as tranças e voltaremos ao mundo mais leves, livres e respeitando mais uns aos outros!
O texto foi escrito pela Psicóloga, sócia aspirante e aluna do segundo do curso de Formação, Laís Mattos.